Diário Mademoiselle

10 aprendizados da quarentena

Bored in the house
In the house bored?

Photo by Sharon McCutcheon on Unsplash

 

1- Não é por estar em casa que o ritmo diminui. 
Muito pelo contrário – no meu caso.
Hoje estamos no dia 62 de isolamento aqui e eu não poderia estar mais exausta.
Algo que venho observando em mim é que, independentemente de poder sair de casa ou não, o isolamento tomou conta da minha agenda. As reuniões de trabalho triplicaram. O trabalho triplicou. Antes eu começava a trabalhar por volta de 10/10h30 todos os dias, saindo entre 20h e 21h quando tinha um dia ‘normal’. Hoje, começo a trabalhar entre 8h e 8h30 (salvo nos dias que tenho francês e isso me mantém desconectada do trabalho automaticamente até 10h30) e vou quase que todos os dias até perto de meia noite. Quando não vou além. Aos finais de semana, abro meu notebook e dou aquela conferidinha no trabalho, pois ele já está ali mesmo. Às vezes caio na cilada de tentar adiantar algo para facilitar a minha semana e me vejo trabalhando umas 4h em pleno domingo. Mas “ah! não teria mesmo nada além disso pra fazer, pois estamos confinados”. Que erro.
Fato é que, pra alguém que ama o que faz como eu, sempre que se olhar mais fundo vai se encontrar mais a fazer. Ou melhor: como diria o ditado, quanto mais você procurar, mais você vai achar.
E com o mercado diminuindo números de pessoas e o serviço (de comunicação) só aumentando mais e mais a demanda, obviamente o peso sobre cada pescoço vem aumentando.
É um teste de resistência, paciência e auto-controle. Afinal, ainda nos jogam na cara a todo momento que, não podemos sequer dizer que estamos cansados pois temos um emprego. E há quem mataria por isso. É, eu sei. Já fiquei desempregada em crises (não que se compare ao que estamos vivendo agora, mas já fiquei) e sei como é desesperador não saber como se vai pagar o aluguel do mês seguinte. Mas, algo que nunca vai me entrar na cabeça é o fato de alguns (muitos) usarem isso como ‘desculpa’ para explorar uma situação como essa, exigindo cada vez mais dos que estão trabalhando e lembrando-os de agradecer por aquilo a cada momento.
Lição nº 1 da quarentena: o ritmo só diminui se você o fizer diminuir aprendendo a dizer ‘não’. E, cara, como dizer não é difícil para algumas pessoas…. eu, inclusa.
2 – Home office é legal mas sinto falta do dia a dia com colegas de trabalho. 
Eu tinha criado uma rotina que eu adorava, sabe. Eu acordava às 5h30. Tomava meu café, ia para academia. Voltava, me arrumava para o trabalho. Ia lendo ou escutando um podcast no metrô. Caminhava por uns 20 min do metrô até o trabalho, por ruas bem lindas e com direito a pit-stop no Starbucks para meu mocha matinal. Chegava no trabalho, revigorada, cumprimentava meus colegas, descobria as principais notícias com eles e ia trabalhar. No almoço eu comia no meu tempo, às vezes conversando com alguém, às vezes assistindo alguma série. Depois, aproveitava pra dar uma volta, ou para ler mais um pouco. À noite, refazia a caminhada para o metrô refletindo sobre meu dia e pensando no dia seguinte. Chegava em casa exausta e quase sempre só comia e ia pra cama mas, tinha feito tanta coisa naquele dia. Era bom.
Isso, claro: só um macro do que eram meus dias. Mas era rodeado de gente que eu hoje, sinto falta.
Não são pessoas com quem divido segredos, com quem faço confidências ou saio aos fins de semana. Mas são pessoas que estão ao meu lado na maior parte do meu tempo. Louco como sentimos falta né.
Sinto falta de um bom dia de um, do “vamos tomar um café” do outro, do “deixa sua marmita pro jantar e vamos com a gente hoje num almoço feliz vai”. Hoje essas pessoas estão atoladas em calls e mal conseguimos seguir nossa rotina de nos dar bom dia todas as manhãs. : /
Lição nº 2 da quarentena: rituais que criamos com as pessoas ao nosso redor são importantes para o nosso bem-estar mental. Ah! E eu gosto de rotina também.
3 – Ouvir a voz de quem se ama numa ligação pessoal é tão bom…
Quando foi que as ligações de um telefone para outro saíram de moda? Gente, não sei mensurar pra vocês o quanto eu fico feliz hoje quando o meu telefone toca para simplesmente jogar conversa fora, para dizer boa noite, para saber como estou. E estou tentando ligar mais também.
Não sei se é apenas comigo mas, o fato de trabalhar diretamente com as telas o tempo todo, deu um quê de trabalho para tudo. E ligações ganharam um peso mais pessoal. Como se ligar demonstrasse mais afeto do que uma simples mensagem de texto.
Pode ser loucura mas, pra mim é assim que é. E eu tenho amado ligações como a adolescente que eu fui no passado e virava noites ao telefone, amava. Vamos voltar a fazer o telefone algo legal, por favor?
Lição nº 3 da quarentena: quando não se pode estar perto de alguém, uma ligação para poder conversar e ouvir a pessoa pode aproximar e fazer mais carinho no nosso emocional do que se pensa.
4 – dizer eu te amo / sinto sua falta / como você está hoje?
Na correria da vida lá fora, acabamos não falando tanto “eu te amo” e “sinto sua falta” como deveríamos. Afinal, estamos atolados, correndo contra o tempo e às vezes a outra pessoa também está. E nisso, passam-se meses, às vezes anos, sem que expressemos esses sentimentos.
Confesso que ter relações tão fortes que resistem a isso é uma benção. Tenho amigas que mesmo que eu suma por 2 anos, sei que estarão lá quando eu voltar. Pois o amor entre nós já é um bem durável, algo muito bem estabelecido. Mas, só por isso eu posso me dar o luxo de sumir?
Fiquei refletindo sobre isso esses dias.
Acho que a quarentena nos mostrou que apesar de podermos, e isso ser muito bom, não devemos.
Ninguém sabe o dia de amanhã. Expressar sentimentos, dizer que temos saudade, que amamos, que queremos bem. Isso é muito importante em qualquer relacionamento. Seja amoroso, seja de amizade, seja família. Ninguém é eterno, por mais que a gente queira que seja.
Lição nº 4 da quarentena: amo ouvir essas coisas então vou me empenhar em dispor de mais tempo para dizê-las.
5 – Organizar a vida financeira requer dedicação e ver $ sobrar é motivador sim
Já comentei que completei 2 meses de isolamento por aqui, né? Pois bem: nesses dois meses consegui reorganizar muitas coisas da minha vida financeira que andavam meio desorganizados, desgovernados. E confesso que nesse ponto a quarentena foi uma ajuda incrível pois, fechou a força algumas torneiras que eu deveria ter fechado há tempos.
Estou longe de ser uma pessoa nova em relação a gastos e finanças só por conta desses 2 meses mas, já estou planejando os meses futuros e cultivando novos e bons hábitos para melhorar minha saúde financeira quando tudo isso passar.
Lição nº 5 da quarentena: organizar a vida financeira requer paciência, dedicação diária e objetivos muito claros no horizonte. Pelo menos pra mim.
6 – Respeitar os sentimentos e momentos
Ao longo dos últimos pouco mais de 60 dias, vi muitas pessoas falando da suas super-produtividades, super rotinas, momentos de lazer e felicidade em quintais vastos, dias ao sol na beira da piscina ou varandas com vista para lindas vistas de natureza e mar. Vi pessoas malhando o dia todo, lendo horas a fio a noite, maratonando séries e dizendo que estavam entediadas da quarentena e que por isso iriam buscar cursos online.
Isso me deixou super mal. E comecei a pesquisar e conversar com amigos e colegas e descobri que eu não estava sozinha. Muita gente, como sempre, cuspindo regra de como devemos nos sentir ou lidar com a situação em meio à pandemia. E isso não é nem de longe diferente da vida fora da pandemia.
As pessoas sempre vão querer te dizer como e o que fazer com a sua vida.
Mas no fim das contas, só você pode saber seus limites, seus sentimentos e o que as coisas representam em cada momento da sua vida. Respeitar isso, é um passo importante pra melhorar um pouquinho o seu mundo e o mundo ao seu redor.Lição nº 6 da quarentena: só eu sei o que dói e o que posso suportar. E ignorar sentimentos negativos não faz com que eles desapareçam.
7 – A difícil arte de planejar o implanejável 
Para uma pessoa que ama planejar a curto, médio e longo prazo, não saber ao certo o que vai ser da vida quando isso passar e quando isso vai passar assusta. Na verdade, apavora. Então encontrei alento em planejar coisas que sei que independem de data mas que são objetivos bons que me dão força pra seguir. São motivação pra sair da cama nos dias ruins. E com certeza vão ser troféus emocionais quando concretizados lá na frente.Lição nº 7 da quarentena: todos precisamos de incentivos e motivos para lutar.
8 – Sonhos nunca foram tão essenciais
Aliás, bem juntinho da lição 7 reforcei uma crença minha que já me salvou em algumas situações no passado: sonhos salvam. Quando você tem um sonho ele se torna um verdadeiro farol. Um oásis no deserto. E leitor: essa pandemia precisa de faróis e oásis. Principalmente se você como eu está em solo brasileiro vendo tanta atrocidade acontecer, dia após dia.Lição nº 8 da quarentena: sonhos nos ajudam a ter fé e esperança.
9 – Terapia, faça terapia 
Das coisas que mais tenho sentido falta na quarentena, minha terapia semanal figura no topo da lista com toda a certeza. Poder falar sobre essa tempestade de sentimentos em um ambiente seguro tem me feito uma falta absurda, entre outras coisas. Mas independente da situação, acho que já sabia da importância da terapia. A quarentena só evidenciou e jogou isso na minha cara mesmo.Lição nº 9 da quarentena: você pode achar que não precisa mais dela, até estar em uma situação limite nova. Portanto, faça terapia.
10 – “nossa, bate sol nesse canto da sala!” vs “que falta sinto de ver a rua da janela” 
Você nunca vai saber, conhecer, entender 100% sua casa até realmente gastar tempo nela. E só então vai ver os defeitos imperceptíveis na rotina diária. Tipo, quando me mudei pra esse apartamento novo, o que eu mais amava nele era que não dava diretamente para a rua. É super silencioso e tranquilo. Fresco, pois não bate muito sol durante o dia. Perfeito, foi o que eu pensei quando me mudei. Hoje que preciso ficar 100% do tempo nele, sinto falta de poder ver a rua, ouvir algum barulho. Sinto falta do sol também, que bate super pouco por aqui durante o dia. 😕 É como dizem, extremos não são boas opções.Lição nº 10 da quarentena: a próxima casa precisa de uma varanda, ainda que eu não queira que bata tanto sol perto do meu quarto. E com vista pra rua. Mas num andar alto pra evitar que eu volte a me incomodar com o barulho da rua….
E você? Aprendeu o que nesse período de isolamento social?

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